quinta-feira, 23 de junho de 2011

O palco da existência

Hoje, joguei as mãos à obra e tentei encontrar o tal novo emprego que à tempos procuro. Já que tudo mudou, porque não mudar também eu, pela minha vontade, a minha vida.
Nos intervalos devidos, de almoço ou pequenas pausas faço telefonemas.
Enquanto tomava café, desistindo por momentos do telefone, veio-me isto à ideia:

A morte está deitada no chão, tal como a deitam, sempre que a encaixotam num enorme paralelipipedo de madeira. Parece-me justo, a morte normal transforma a pessoa em pedra. Calçada que fica, só caminhará daí para diante pelos passos das lembranças dos outros.
Mas não é essa morte que vejo, é outra, a morte das cartas de tarot, a morte como transformação.
Dizia: a morte está deitada no chão. E quem é esta morte? A sociedade pois então ! Por enquanto está deitada no chão. Na verdade ela não sabe muito bem que posição assumir. Por isso, por enquanto, deixo-a deitada no chão, meio estática, em posição ancestral, na posição que a convenção, mandou a morte assumir.
De cóqueras debruçada sobre a morte está a convenção. Que posição desconfortável tem agora a convenção. Tempos houve em que se mantinha de pé, altiva. Agora mantem-se dobrada sobre si mesma, segredando aos ouvidos da morte, torrando-lhe a paciência e instigando - a a manter-
se quieta, firme, no seu lugar, para que ela própria - a convenção, claro está - se levante altiva de novo e ocupe o seu antigo lugar, caminhando de braço dado com a morte, que se encontra agora moribunda.
Sentada no chão, de perna cruzada, alheia a tudo está a vida. Que autista me saiu. Comporta-se como se não fosse nada com ela. Sai dessa eterna posição descontraida com que observas tudo, sai ! Vai preocupar-te com o que está mal! Descruza as pernas e mexe-te. Que raiva!
Sentada na cadeira, agora, a observar em silêncio, está a humanidade. Não as pessoas todas do mundo, não , que exagero. É a humanidade daquilo que nos faz humanos. As características que nos tornam homens e mulheres. Humanidade portanto. Está sentada, a observar. Parece cansada. Aposto que de quando em vez ainda dialoga com a morte, põe algum juízo na convenção e é sem dúvida com ela que a vida gosta mais de estar. No fundo, por agora mantêm-se as duas sentadas. Como se estivessem cansadas e não lhes apetecesse tomar as redeas do caminho que deviam percorrer. Sentaram-se, descansam, preguiçam. Bah!
E de pé, de pé lá está ele, um homem claro, fazendo bulir à sua volta uma série de anões - demasiados para mim, que barafunda- dos quais só alguns consegui identificar, já que se movimentam em loucura, quais electrões em orbita, prontos a chamar continuamente a atenção do dinheiro - não vos tinha dito? O homem é o dinheiro. Vi o anão do trabalho, o do ciúme e o da inveja. Vi o do cansaço que tentava virar as costas ao dinheiro pegando na saude ao colo e vi o da garganeirice, vulgo forreta, que tentava retirar ao dinheiro todos os bocados que pudesse para guardar para si.
Conclusão: não tenho ainda emprego novo, mas tenho imaginação, por isso irei conseguir. Outra das conclusões a que posso chegar é que provavelmente, esta coisa de existir é um palco, que todos vemos e onde cada um interpreta os personagens à sua maneira.


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