sábado, 30 de julho de 2011

A evolução do espécimen

Prometi que não voltava a falar de ti, para não lembrar o luto, já que tenho necessáriamente que o fazer. Mas a verdade é que vives-me ainda no pensamento por muito que te cale na boca.
É verdade que te tentei substituir, mas pessoas especiais são insubstituíveis e eu não consigo conceber, por enquanto, um upgrade de ti, na minha vida.
Tenho a noção que a teoria da evolução nos diz que só os mais adaptados sobrevivem, mas eu não me adapto à falta que fazes em mim.
Recordo todos os pormenores, mas a tua voz sumiu-se como se fosse uma música que cantarolo sem conseguir lembrar a letra.
Tento evoluir. Sei que talvez encontre um especimen que me faça de novo voltar a rir sozinha, por me lembrar dos seus pormenores, mas por enquanto hajo como a natureza, muito lenta na evolução.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O fenómeno da imitação

Ser gémea é nascer com a igualdade no sangue. É crescer com um espelho imitável e imitador. Até surgirem as diferenças: no lidar com os outros, com o mundo, com o que vamos encontrando pela frente.
No inicio só a igualdade tem sentido. Queremos ser iguais, confundir-nos com o outro ser, que todos julgam idêntico. Depois vem a necessidade de identificação. De saber quem somos, porque não somos uma e só uma mas duas, distintas. Os timings são diferentes e nem sempre a tentativa de superação da igualdade visivel é fácil de aceitar.
A fantasia não foi dividida em porporções iguais e aceito as condições da vivência numa lógica de protecção e compreensão das diferenças. Porque amar é sobretudo aceitar que o outro se sente bem em condições completamente diferentes das nossas.
Não nasci com a poesia nas veias, mas emociono- me com facilidade, opino, sabendo de antemão que posso nem sempre ser compreendida, como nem sempre compreendo ou concordo. Isso faz parte daquilo a que chamamos diálogo e que faz de nós seres com capacidades diferentes. É o fenómeno da linguagem, que se aprende sempre, também, por imitação. Não concebo a falta de diálogo entre os seres humanos, muito menos quando se querem bem. Daí a importância do salto que é necessário dar, desde a fase da imitação até à da identificação.
E nada disto é segredo, e nada do que aqui está escrito é surpresa. Porque antes de o escrever sinto-o e sobretudo compartilho com aquela foi concebida ao mesmo tempo que eu.

Eu sei que é uma reflexão pessoal e que pouco vos pode dizer, mas hoje por motivos especiais apetece-me explicar o quanto pode ser difícil conviver com um ser aparentemente igual a nós.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A ditadura do giro

Gosto porque é giro, fiz porque é giro.
Mas afinal o que é essa coisa de ser giro? Um giro ( bonito!), uma volta, um passeio?
Serão decisões tomadas numa base de mobilidades ou aparências?
Já ninguém decide. Faz-se porque é giro, parece giro, parece bem.
Parece-me mal, muito mal! Parece-me que ninguém quer ter responsabilidade de assumir a decisão.
Fiz porque sim, porque me parecia bem assim! Errei ou não.
Infelizmente o "fiz porque é giro" aplica-se a todos os campos de vivências: tenho esta relação porque é gira, ou a/o companheiro é giro ou é giro quando estamos juntos; tiram- se cursos giros que estão na moda, mas que não se sabe o que fazer com eles no futuro.
Depois vem a vida real, que não é gira e pressupõe dificuldades. O companheiro perde a graça e toca a mandá-lo dar um giro. O emprego não chega, não realiza, não preenche e a vida fica sem graça. Entretanto com tudo tão giro, não se aprendeu a tomar decisões, a assumi-las e a perceber como se faz quando se erra.
É deprimente a ditadura do giro. É bom aprender a saber o que se quer e porque se quer. O poder de decisão é o maior poder que se pode ter na mão e não pode ser utilizado na base da moda do mais giro, ou a vida pode vir a ficar feia.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Desculpem lá qualquer coisinha

http://www.tvi24.iol.pt/videos/video/13462360/1

E desculpem lá a publicidade, mas ó melgas da moody`s esta  tinha mesmo que partilhar, porque estes são uns tempos extraordinários em que podemos fazer coisas extraordinárias!!!

Demais!!

Adoro fazer parte deste lixo português

sábado, 23 de julho de 2011

Deixem viver os anónimos !

Ontem fui dançar, ou melhor, fui tentar dançar.
A meu ver é triste descobrir que já são poucas as pessoas que saem para dançar ou para se divertir.
As pessoas saem para ver outras ou para serem vistas e não digo isto no sentido de encontro, mas no sentido de puro voyarismo. Medem-se roupas, penteados, comportamentos. Qualquer um quer ser " apanhado" numa objectiva, como prova do seu estado in, dos seus encontros em locais populares e populosos. Dançar ou divertir-se tornou-se um acessório dispensável a esta nova forma de estar em que é muito mais importante parecer ou aparecer do que propriamente estar e fazer por simplesmente se gostar.
Nas pistas as fotos em pose tiram os lugares aos que gostam de sentir a música, chegando ao ponto de sermos nós, os orgulhosamente anónimos que nos sentimos a mais e deslocados das passareles onde a música serve apenas de desculpa para manter a cultura da exposição.
Quem está mal muda-se e foi isso que acabei por fazer, antes que alguém me viesse dizer: " Por favor, tente não incomodar o trabalho do fotografo com os seus movimentos" quando de facto é o trabalho e a cultura instituida pelos que só se querem mostrar que incomodam o divertimento e o movimento dos que não necessitam mostrar que sabem como se divertir.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Regras, excessos e liberdades

Nem todos gostam de regras. Suponho que, a maioria considera o excesso de regras como um atentado à liberdade. No entanto as regras existem, na maioria das vezes para proteger as liberdades daqueles que, por qualquer motivo, não conseguem defender-se dos excessos alheios.
A nossa sociedade foi construída com base em regras, mas qual de nós não se excedeu já, por algumas vezes, contornando ou ignorando as regras determinadas? Ou por descuido, ou por simples facilitismo ou só por não concordar com elas.
Quantas vezes, devido a esses actos excessivos ou desregrados não atropelámos as liberdades alheias? Muitas vezes sem consequências, outras vezes com algum tipo de prejuízo para alguém.
Diz-se que a excepção é a confirmação da regra ou que as regras foram feitas para serem quebradas.Convenhamos, o português adora infringir qualquer pequena regra, desde que a considere sem sentido prático evidente. E excusam de dizer que não! O trânsito é disso o exemplo mais comum, assim como os atropelos a qualquer tipo de fila de espera, ou até o ignorar das prioridades a conceder aos idosos e ás gravidas. Adoramos olhar para o lado e assobiar, fingindo nada saber.
Pergunto-me muitas vezes se o estado a que chegámos não é de facto um reflexo deste ignorar das regras de boa conduta que permitem proteger as liberdades. Agora assim nos encontramos, à mercê das regras alheias. Porque não conseguimos ou não quisemos exigir a quem tinha o direito e o dever de as delimitar e as fazer cumprir.
Não sou a favor de excessos nem de limitações mas sou a favor de uma vida melhor para todos, em liberdade e para isso é necessário que existam regras.

E isto tudo porque levei uma multa de mau estacionamento e pela primeira vez na vida percebi que por mais voltas que queiramos dar às coisas , não podemos ter sempre razão. O melhor, nos dias que correm, para os nossos euros não correrem para os cofres do estado, é cumprir com as regras e exigir aos outros que também as cumpram. Por muito que isso nos possa custar! @#&//,,$&#&

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Conversa de rua

O dia foi chato. Mesmo sabendo que para quem está de férias, os dias não têm estado de ventos favoráreis, estar sentada a uma secretária um dia inteiro, com telefones a apitar constantemente nem sempre é fácil. Mas isso nada tem de extraordinário e não é nada que não seja provavelmente vivido pela maioria de nós. Só que todos os dias algo extraordinário acontece, nem que seja uma coisa mínima.
Sentei-me, sabe-me bem uma coca-cola numa esplanada antes de chegar a casa. Na maior parte dos dias nem volto a sair.
O táxi parou um pouco à frente, junto ao passeio e ele saiu. Entre os 50 e os 60 provavelmente ( eu sei que é uma diferença grande, mas há pessoas a quem é quase impossível saber a idade). Na esplanada nem uma mesa vaga. Perguntou-me se podia sentar-se, eu acenei que sim, sem querer dar muita confiança. É engraçado como nos gostamos de manter mais ou menos invisíveis quando não conseguimos dizer não.
O monólogo começou aí. Sem o minimo pudor, mas com todo o respeito, em cerca de 20 minutos fiquei a conhecer a história do senhor, das filhas e do pequeno neto. Sem dar por mim, partilhei com ele histórias da minha vida, pequenas aventuras e ocasiões daquelas que nos marcam pela sua curiosidade, as ditas coisas inéditas. Rimos. Ele pagou, saiu e foi à sua vida. Eu fiquei mais um pouco a ver o sol descer. É giro como nos dias que correm falamos com pessoas distantes, que nunca vimos, através da tecnologia, partilhando tanta coisa e como nos sentimos por vezes intimidados por fazer exactamente o mesmo com quem se senta ao nosso lado. Há pessoas que têm o dom da palavra, o dom de nos fazer sentir bem ao conversar e são essas que nos fazem, ainda hoje, acreditar que há quem goste de partilhar só pelo prazer contar, de falar de acompanhar. Foi diferente, foi sobretudo reconciliador.