quarta-feira, 20 de julho de 2011

Conversa de rua

O dia foi chato. Mesmo sabendo que para quem está de férias, os dias não têm estado de ventos favoráreis, estar sentada a uma secretária um dia inteiro, com telefones a apitar constantemente nem sempre é fácil. Mas isso nada tem de extraordinário e não é nada que não seja provavelmente vivido pela maioria de nós. Só que todos os dias algo extraordinário acontece, nem que seja uma coisa mínima.
Sentei-me, sabe-me bem uma coca-cola numa esplanada antes de chegar a casa. Na maior parte dos dias nem volto a sair.
O táxi parou um pouco à frente, junto ao passeio e ele saiu. Entre os 50 e os 60 provavelmente ( eu sei que é uma diferença grande, mas há pessoas a quem é quase impossível saber a idade). Na esplanada nem uma mesa vaga. Perguntou-me se podia sentar-se, eu acenei que sim, sem querer dar muita confiança. É engraçado como nos gostamos de manter mais ou menos invisíveis quando não conseguimos dizer não.
O monólogo começou aí. Sem o minimo pudor, mas com todo o respeito, em cerca de 20 minutos fiquei a conhecer a história do senhor, das filhas e do pequeno neto. Sem dar por mim, partilhei com ele histórias da minha vida, pequenas aventuras e ocasiões daquelas que nos marcam pela sua curiosidade, as ditas coisas inéditas. Rimos. Ele pagou, saiu e foi à sua vida. Eu fiquei mais um pouco a ver o sol descer. É giro como nos dias que correm falamos com pessoas distantes, que nunca vimos, através da tecnologia, partilhando tanta coisa e como nos sentimos por vezes intimidados por fazer exactamente o mesmo com quem se senta ao nosso lado. Há pessoas que têm o dom da palavra, o dom de nos fazer sentir bem ao conversar e são essas que nos fazem, ainda hoje, acreditar que há quem goste de partilhar só pelo prazer contar, de falar de acompanhar. Foi diferente, foi sobretudo reconciliador.

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